Para autorizar obras nas margens do Rio São Francisco, Ibama exigiu realização de inventário de espécies. Por isso, Univasf está executando serviço, que garantiu reconhecimento da flora da região
Das duas mil espécies de plantas encontradas na caatinga, 581 ocupam as margens dos canais por onde será desviada a água do Rio São Francisco, no Sertão. O levantamento, realizado pela Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf), é uma das exigências do Ibama para a execução da obra, do Ministério da Integração Nacional, e inclui os resgate de sementes, frutos e amostras das árvores, arbustos e ervas, entre outros tipos de vegetais.
O estudo, iniciado em julho de 2008, se estende por 350 quilômetros do eixo Norte, que liga Cabrobó (PE) a José da Penha (RN), e 210 do eixo Leste, que vai de Petrolândia (PE) a Monteiro (PB). “Tem sido um trabalho exaustivo de inventário e resgate, que vem permitindo o reconhecimento da flora da região, muito mais rica do que se costuma imaginar”, diz o coordenador do projeto, o professor da Univasf José Alves de Siqueira Filho.
O levantamento é realizado nas duas margens dos canais, num raio de mais de 200 metros, correspondentes à área da vegetação a ser desmatada. As valas terão 50 metros de largura e 10 de profundidade. O estudo tem mostrado que as famílias botânicas mais comuns na área de influência da transposição do Rio São Francisco são as das leguminosas, como a umburana-de-cheiro, e das euforbiáceas, a exemplo do pinhão-manso, além das gramíneas. “Das 581 espécies, 33,4% são ervas, 26,8% arbustos, 17% árvores, 13,5% trepadeiras, 3,9% plantas aquáticas, 1,4% parasitas e 0,9% de epífitas”, detalha José Alves, responsável pelo Centro de Referência para a Recuperação de Áreas Degradadas (Crad-Univasf).
Ao todo, foram identificadas 83 famílias botânicas. As amostras de plantas são incorporadas ao acervo do herbário da Univasf, um dos dois do Nordeste que possuem armários de correr, os mesmos usados nos do Royal Botanic Garden, da Inglaterra. O outro é o da Universidade Estadual de Feira de Santana, na Bahia.
DESTAQUES
Um dos destaques das plantas catalogadas é uma espécie ao mesmo tempo endêmica e ameaçada de extinção, o ipê-cascudo. Denominada pelos cientistas Handroanthus spongiosus, a arvoreta permanece florida apenas de dois a cinco dias por ano, entre os meses de novembro e dezembro. O espetáculo das flores amarelas pode ser visto logo após o início do período chuvoso.
Sem folhas e flores, durante o ano o ipê-cascudo se confunde com as outras plantas da caatinga, vegetação exclusiva do Brasil que se espalha por quase 800 mil quilômetros quadrados no interior do Nordeste. É um tipo de hibernação às avessas, chamada de estivação, que permite as espécies da flora da caatinga suportarem o período de estiagem. Ao sinal das primeiras chuvas, no entanto, os galhos e gravetos aparentemente secos retomam as folhas e flores.
Para Siqueira Filho, o inventário é importante não só para o estudo da caatinga, mas também para nortear as ações de reflorestamento previstas pelo Rima. “Sabendo quais as espécies da região, os técnicos que farão o serviço poderão usá-las no lugar das espécies exóticas, como o eucaliptote empregadas em projetos de revegetação”, explica.
Fonte:Jornal do commercio
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