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quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Por que a luz piora a enxaqueca

É comum para quem sofre de enxaqueca a vontade de, ao ter um ataque, querer se refugiar em um quarto silencioso e escuro. Embora há tempos se saiba que a luz piora o quadro dessa cefaleia, os motivos por que isso ocorre são desconhecidos.

Agora, um grupo de cientistas nos Estados Unidos identificou um mecanismo que ocorre na sensibilidade à luz durante as crises de enxaqueca tanto em pessoas com visão normal como em deficientes visuais.

Os resultados da pesquisa, divulgados neste domingo (10/1) na edição on-line da revista Nature Neuroscience, ajudam a compreender melhor os mecanismos por trás do problema ainda sem cura e que atinge milhões de pessoas em todo o mundo.

De acordo com o estudo, cerca de 85% dos indivíduos com enxaqueca são extremamente sensíveis à luz. A fotofobia faz com que muitos evitem atividades como dirigir ou até mesmo ler e trabalhar. “Alguns pacientes chegam até mesmo a usar óculos escuros durante à noite”, disse um dos autores do estudo, Rami Burstein, professor do Beth Israel Deaconess Medical Center (BIDMC) e da Escola Médica Harvard.

Foi a constatação de que a fotofobia atinge, entre os pacientes com enxaqueca, até mesmo as pessoas cegas que levou o grupo a investigar a hipótese de que os sinais transmitidos pela retina por meio dos nervos ópticos intensificariam as dores.

Os pesquisadores examinaram dois grupos de deficientes visuais que sofriam de enxaqueca. Os voluntários no primeiro grupo eram totalmente cegos devido a doenças como câncer na retina ou glaucoma. Como eles não eram capazes de ver imagens ou de perceber luz, tinham dificuldade de manter ciclos normais de sono.

O segundo grupo era formado por deficientes visuais devido a doenças degenerativas como retinite pigmentosa. Embora não fossem capazes de perceber imagens, podiam detectar a presença de luz e manter ritmos normais de dormir e ficar acordado.

“Enquanto os pacientes no primeiro grupo não experimentaram piora em suas dores de cabeça a partir da exposição à luz, os do segundo grupo tiveram uma intensificação nas dores, particularmente na exposição à luz nos comprimentos de onda azul e cinza”, disse Burstein.

“Isso indicou que o mecanismo da fotofobia deveria envolver o nervo óptico, porque em indivíduos totalmente cegos esse nervo não transporta os sinais luminosos até o cérebro”, afirmou.

Os cientistas levaram os resultados ao laboratório, onde realizaram uma série de experimentos em modelos animais da enxaqueca. Após injetarem melanopsinas (fotopigmentos) nos olhos de ratos, eles traçaram o caminho dos sinais pelos nervos ópticos até o cérebro, onde descobriram um grupo de neurônios que se tornaram eletricamente ativos durante as crises de enxaqueca.

“Quando pequenos eletrodos foram inseridos nesses ‘neurônios da enxaqueca’ descobrimos que a luz estava disparando um fluxo de sinais elétricos que estava convergindo nas melanopsinas. Isso aumentava a sua atividade em segundos”, disse Burstein.

Mesmo quando a luz era apagada, os neurônios permaneciam ativos. “Isso ajuda a explicar por que pacientes contam que suas crise se intensificam segundos após a exposição à luz e melhoram de 20 a 30 minutos depois que passam para ambientes escuros”, disse.

Para os autores do estudo, a descoberta fornece novas rotas para abordar o problema da fotofobia em portadores de enxaqueca. “Clinicamente, a pesquisa monta um cenário para identificar maneiras de bloquear o caminho da dor de modo que os pacientes possam suportar a luz sem desconforto”, apontou.

Fonte:FAPESP

Internet e depressão

Agência FAPESP – Pessoas que passam muito tempo navegando pela internet têm maior risco de apresentar sintomas depressivos, de acordo com uma pesquisa feita no Reino Unido por cientistas da Universidade de Leeds.

O estudo, que será publicado na edição de 10 de fevereiro da revista Psychopathology, procurou analisar o fenômeno de usuários que têm desenvolvido o uso compulsivo da internet, substituindo a interação social no mundo real pelo virtual, em redes sociais, chats ou em outros serviços eletrônicos.

Segundo os pesquisadores, os resultados do estudo apontam que esse tipo de dependência pode ter impactos sérios na saúde mental. “A internet ocupa hoje parte importante na vida moderna, mas seus benefícios são acompanhados por um lado negro”, disse Catriona Morrison, um dos autores do estudo.

“Enquanto a maioria usa a rede mundial para se informar, pagar contas, fazer compras e trocar e-mails, há uma pequena parcela dos usuários que acha difícil controlar o tempo gasto on-line. Isso ao ponto em que tal hábito passa a interferir em suas atividades diárias”, apontou a cientista.

Os “viciados em internet” passam, proporcionalmente em relação à maioria dos usuários, mais tempo em comunidades virtuais e em sites pornográficos e de jogos. Os pesquisadores verificaram que esse grupo tem incidência maior de depressão de moderada a grave.

“Nossa pesquisa indica que o uso excessivo da internet está associado com depressão, mas o que não sabemos é o que vem primeiro. As pessoas depressivas são atraídas pela internet ou é o uso da rede que causa depressão?”, questionou Catriona.

A pesquisa examinou 1.319 pessoas com idades entre 16 e 61 anos. Do total, 1,2% foi considerado como “viciado em internet”. Apesar de ser uma pequena parte do total, segundo os pesquisadores o número de internautas nessa categoria tem crescido.

Incidentes como a onda de suicídios entre adolescentes ocorrida na cidade de Bridgend, no País de Gales, em 2008, têm levado a questionamentos a respeito da influência das redes sociais em indivíduos vulneráveis à depressão.

No estudo, os pesquisadores observaram que o grupo dos “viciados em internet” era formado principalmente por usuários mais jovens, com média de idade de 21 anos.

“Está claro que para uma pequena parte dos usuários o uso excessivo da internet é um sinal de perigo para tendências depressivas. Precisamos considerar as diversas implicações dessa relação e estabelecer claramente os efeitos desse uso na saúde mental”, disse a pesquisadora.

Fonte:FAPESP

Convênio entre Governo de Pernambuco e Univasf contempla popularização da ciência




O governador de Pernambuco, Eduardo Campos assinou na tarde desta terça-feira (2) convênio de cooperação financeira com a Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf) para a construção do novo prédio do Espaço de Ciência e Cultura da instituição (ECC/Univasf), em Petrolina, sertão do estado.

A solenidade aconteceu no auditório da biblioteca do campus Petrolina Centro, e contou coma presença de autoridades políticas e acadêmicas. No palco de honra, além do governador Eduardo Campos e do reitor da Univasf, professor José Weber, estavam o prefeito de Petrolina, Júlio Lóssio, o secretário de Desenvolvimento Econômico de Pernambuco, Fernando Bezerra Coelho, o deputado federal, Fernando Filho, mentor da proposta de emenda parlamentar que assegurou um terço dos recursos da obra, orçada em 4,5 milhões, que contará ainda com aporte financeiro do Governo de Pernambuco de 1,5 milhões, e outros 1,5 milhões do Ministério da Educação (MEC).

A previsão é que a obra seja iniciada no prazo de 30 a 90 dias, após andamento do processo licitatório e assinatura da ordem de serviço que autorizará a respectiva execução. Quando ficar pronto o novo prédio abrigará novos equipamentos já projetados, tais como biblioteca, infoteca, café cultural, auditório com 111 lugares, laboratórios e mirante, que além da bela paisagem do Rio São Francisco vai oferecer aos visitantes um observatório astronômico. Outro ambiente importante já projetado para o local é o museu da Univasf.

Para o aluno do curso de Engenharia de Produção e monitor do ECC, Gustavo Augusto, a nova estrutura vai proporcionar um melhor acesso dos estudantes às atividades desenvolvidas, além de servir como um espaço pedagógico aos professores das escolas públicas da região.

Ao destacar o ambiente da universidade como instrumento em favor da sociedade, o reitor José Weber disse que a arte e a ciência terão um lugar de destaque no ensino público. A razão da expectativa tem como referência as ações já implementadas pelo Espaço de Ciência e Cultura. “Mesmo com a atual estrutura já conseguimos atender mais de 18 mil alunos das redes municipal e estadual de ensino, com o novo espaço teremos a oportunidade de popularizar cada vez mais o conhecimento produzido na universidade, afirmou José Weber”.


Fonte: Assessoria de Comunicação Univasf

Estresse ligado à formação de tumores

O estresse emite sinais que fazem com que células desenvolvam tumores, indica uma pesquisa feita por um grupo da Universidade Yale, nos Estados Unidos, e publicado primeiramente no site da revista Nature.
O estudo descreve uma nova maneira pela qual o câncer age no organismo e aponta novos caminhos para combater a doença. Até agora, a maioria dos cientistas estimava que uma célula precisava de mais de uma mutação que causa câncer para que os tumores se desenvolvessem.
O grupo liderado por Tian Xu, professor e vice-presidente do conselho de genética de Yale, mostrou que mutações que causam câncer podem atuar em conjunto para promover o desenvolvimento de tumores mesmo quando localizados em diferentes células em um mesmo tecido.

O grupo trabalhou com moscas-das-frutas (Drosophila melanogaster) para analisar as atividades de dois genes conhecidos pelo envolvimento no desenvolvimento de tumores no home. O primeiro é o chamado RAS, que já se mostrou implicado em 30% dos cânceres. O outro é o gene scribble (“rascunho”), que contribui para o desenvolvimento de tumores quando sofre mutação.

Uma célula com apenas a mutação RAS é capaz de se desenvolver em um tumor maligno se auxiliada por uma célula próxima que contenha um gene scribble defeituoso.

Em seguida, os pesquisadores observaram que condições estressantes, como uma ferida, podem disparar o desenvolvimento do câncer. Por exemplo, células RAS se desenvolveram em tumores quando um ferimento foi induzido em um tecido.

O mecanismo por trás do fenômeno, segundo os pesquisadores, é um processo de sinalização conhecido como JNK, que é ativado por condições de estresse.

“O problema é que diversas condições podem disparar a sinalização de estresse, seja o estresse físico ou emocional, infecções ou inflamações”, ressaltou Xu.

Fonte:JC on line

Aracnídeos sob comando

Aracnídeos sob comando

Uma vespa da espécie ‘Hymenoepimecis veranii’ pousa na teia de uma aranha e aguarda a saída do aracnídeo de seu abrigo para atacá-lo, imobilizá-lo e depositar um ovo em seu abdome (foto: Jober F. Sobczak).

O comportamento de duas novas espécies de vespas parasitas foi registrado por pesquisadores brasileiros. Os cientistas descreveram a relação que esses animais mantêm com suas hospedeiras, as aranhas, em artigo publicado recentemente no Journal of Natural History. Segundo eles, o mecanismo de dominação usado pelas vespas sugere uma ‘parceria’ aperfeiçoada ao longo de um período evolutivo extenso.

O mecanismo de dominação usado pelas vespas sugere uma ‘parceria’ aperfeiçoada ao longo de um período evolutivo extenso

As vespas observadas pertencem às espécies Hymenoepimecis japi e Hymenoepimecis sooretama. Elas foram vistas parasitando, respectivamente, as aranhas das espécies Leucage roseosignata e Manogea porracea. Outras relações de parasitismo entre vespas e aranhas já foram verificadas anteriormente. O estudo foi feito na Reserva Florestal da Companhia Vale, em Sooretama (Espírito Santo), e na Reserva Ecológica da Serra do Japi, em Jundiaí (São Paulo).

Segundo um dos autores do artigo, o biólogo Jober Fernando Sobczak, da Universidade Federal de São Carlos e do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia dos Hymenoptera Parasitoides da Região Sudeste Brasileira, as vespas analisadas atacam apenas um tipo de aranha. “Acredito que seja um processo bastante específico”, defende em entrevista à CH On-line.

Larva da vespa 'Hymenoepimecis veranii’ em aranha
Larva da vespa 'Hymenoepimecis veranii' no abdome de uma aranha (foto: Jober F. Sobczak).

O biólogo conta que as vespas recém-descritas usam uma substância ainda desconhecida, provavelmente um anestésico, para imobilizar a aranha e, assim, depositar seu ovo na parte externa do abdome do aracnídeo, onde o inseto se desenvolverá. Com o passar dos dias, o ovo se transforma em larva e, depois de um período de amadurecimento, que deve durar em torno de três semanas, a larva libera outra substância, também não identificada, que altera o comportamento da aranha. “É como se fosse uma neurotoxina”, compara o pesquisador.

A serviço das vespas

A partir de então, a aranha torna-se uma espécie de escrava da vespa e trabalha para o bem-estar dela. A teia é construída de forma diferente: em vez de uma espiral plana com múltiplos fios em sentidos diferentes, a estrutura passa a ser uma espécie de envoltório, com fios concentrados e poucos eixos definidos.

A ideia é que o novo desenho da teia proteja e sustente melhor o casulo da vespa. “Na teoria, ela é mais resistente que a original, pois reúne vários fios em um só”, explica Sobczak. “A teia modificada resiste bem ao peso do casulo e à chuva”, diz. Terminada a construção, a aranha, que já parara de se alimentar dois dias antes, morre e serve de alimento para a larva, que então constrói seu casulo. Depois, a vespa adulta eclode e abandona o casulo.

Uma interação semelhante entre a vespa Hymenoepimecis veranii e a aranha Araneus omnicolor já havia sido descrita pelos pesquisadores em artigo publicado em 2007 na revista Naturwissenschaften. Nessa relação, a teia construída pelas aranhas parasitadas também se torna muito diferente da produzida pelas não parasitadas.

Teias de aranha normal e modificada
À esquerda, teia normal feita por uma aranha da espécie 'Araneus omnicolor'. À direita, após construir a teia modificada que irá proteger o casulo da vespa, o aracnídeo parasitado é consumido pela larva dentro da folha usada como abrigo (fotos: Marcelo de Oliveira Gonzaga e Jober F. Sobczak).

Parasitismo refinado

As etapas da relação entre o hospedeiro e a vespa parasita são bastante precisas. A quantidade das substâncias químicas injetadas na aranha para imobilizá-la e alterar seu padrão de construção da teia parece ser cuidadosamente medida. “Por isso, acredito que esses animais passaram por um processo de coevolução bastante requintado”, justifica Sobczak.

A quantidade das substâncias químicas injetadas na aranha parece ser cuidadosamente medida

O parasitismo pode ocorrer tanto em aranhas fêmeas quanto em machos. Mas, como os machos têm pouca biomassa – o que significa menos alimento para a larva – e seu ciclo de vida é mais curto, eles não são atacados com tanta frequência. As vespas estudadas preferem as fêmeas de tamanho intermediário, mais facilmente dominadas do que as grandes.

Sobczak acrescenta que ainda é necessário mais pesquisa sobre os padrões de parasitismo em outras espécies de vespa do gênero Hymenoepimecis. Os pesquisadores querem comparar as características das teias de outros hospedeiros e saber se a mudança no desenho delas é um padrão difundido dentro do grupo. “Pretendemos também investigar quais são as substâncias presentes no veneno usado pela vespa para imobilizar a aranha e as substâncias injetadas pela larva para modificar o comportamento de construção da teia”, completa.

Fonte: Ciência hoje

Sob os raios do Sol

Sob os raios do Sol

Módulos fotovoltaicos produzidos no Núcleo Tecnológico de Energia Solar da PUC do Rio Grande do Sul. São os primeiros fabricados em escala industrial na América Latina (foto: Divulgação NT-Solar/PUCRS).

No que diz respeito a energia solar, a atuação do Brasil tem sido vergonhosa. Enquanto o mundo industrializado e países em desenvolvimento investem na nova matriz, não passamos de meros espectadores. Mas esse panorama tem seus dias contados. Em dezembro passado a Faculdade de Física da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) apresentou um projeto que promete colocar a produção de energia solar nacional em patamares competitivos com os melhores do mundo.

Os méritos cabem à equipe coordenada pelos físicos Adriano Moehlecke e Izete Zanesco, do Núcleo Tecnológico de Energia Solar da PUCRS. Pela primeira vez na América Latina, foi criado um processo industrial [PDF] que viabiliza, com notável eficiência e custo reduzido, a fabricação de módulos fotovoltaicos, painéis que captam radiação solar e a convertem em energia elétrica.

Para entender a conquista, é preciso saber um pouco mais sobre a geração de energia a partir da matriz solar, que tem hoje duas grandes aplicações: no aquecimento de água, com o auxílio de coletores solares (dispositivos que convertem energia solar em térmica), e na geração de eletricidade, por meio de células solares (dispositivos que convertem energia solar em elétrica). São duas aplicações totalmente distintas, e é na segunda –chamada de energia solar fotovoltaica – que se insere o trabalho da PUCRS.

Quando uma célula solar capta raios do Sol, ela produz uma tensão muito baixa (em geral de 0,5 a 0,6 volts). Isso é muito pouco, pois, para gerar a eletricidade desejada, são necessários normalmente 110 ou 220 volts. Para resolver a questão, é preciso trabalhar com várias células solares em conjunto. "Reunimos um bom número delas sob uma chapa de vidro e em seguida reforçamos a estrutura com uma moldura de alumínio", explica Moehlecke. “Assim, construímos o chamado módulo fotovoltaico, que nada mais é que um grupo de células solares integradas e protegidas das intempéries."

Célula solar
A conversão de energia solar em elétrica é feita a partir das células solares (foto: Divulgação NT-Solar/PUCRS).

No Brasil, vários grupos de pesquisa trabalham com células solares e módulos fotovoltaicos. Mas apenas em nível experimental. Na América Latina, não haviam sido desenvolvidos até agora meios de produzir energia a partir desses módulos em escala industrial. “Isso significa que somos pioneiros", comemora Moehlecke. “E os custos de produção são extremamente vantajosos”, completa. Segundo o físico, poucos lugares no mundo têm uma estrutura tão eficiente como a que foi criada na universidade.

Poucos lugares no mundo têm uma estrutura tão eficiente como a que foi criada no Rio Grande do Sul

As células solares desenvolvidas nos laboratórios da PUCRS apresentam uma qualidade comparável ao que há de mais avançado no mundo hoje. Os números explicam. Elas têm eficiência de 15,4%. Isto é, do total da energia solar absorvida, 15,4% convertem-se em energia elétrica. Trata-se de uma marca considerável, visto que atualmente a média mundial de eficiência é de 14% – e as melhores células do mercado batem os 16%. "Ou seja, nossa tecnologia é de fato competitiva", diz Moehlecke.

Isso põe o Brasil em posição privilegiada num mercado em que a competição é bastante acirrada. O físico lembra que, em nível experimental, já existem células bem mais poderosas, com até 25% de eficiência, porém inviáveis para a produção de energia em larga escala. Em 2002, Moehlecke recebeu o prêmio Jovem Cientista (patrocinado pelo CNPq, pela empresa Gerdau e pela Fundação Roberto Marinho) por ter produzido equipamentos para geração de energia solar em escala industrial, com eficiência comparável à de concorrentes internacionais e a custos inferiores (veja ‘Energia solar: prós e contras’).

Evaporadora industrial
A passagem pela evaporadora industrial é uma das etapas de produção das células solares fotovoltaicas (foto: Divulgação NT-Solar/PUCRS).

Energia solar a pino

A energia solar fotovoltaica é a forma de produção de eletricidade que mais cresce no mundo hoje, como mostram estudos do Instituto de Energia da Universidade da Califórnia [PDF] e da Associação das Indústrias Fotovoltaicas Europeias [PDF]. Desde 2003, o índice de expansão dessa indústria ultrapassa 50% ao ano, sendo que, só em 2008, esse mercado cresceu 85%. Em 2007 o mundo produziu mais de 4 mil MW (1 megawatt é igual a 1 milhão de watts) com módulos fotovoltaicos, o equivalente a um terço da potência instalada de Itaipu. Em 2008, a produção mundial foi de 8 mil MW, e há previsão de aumento ainda maior nos próximos anos.

A energia solar fotovoltaica é a forma de produção de eletricidade que mais cresce no mundo hoje

Por falar em Itaipu, há um cálculo que surpreende. Se cobríssemos metade da área alagada da usina com módulos fotovoltaicos, a quantidade de eletricidade que teríamos seria maior que a gerada pelo seu sistema hidráulico. E só durante o dia! A afirmação é do físico Arno Krenzinger, diretor da Associação Brasileira de Energia Solar.

Os líderes do mercado mundial de energia solar são China, que detém 35% do setor, Alemanha (com 18,5%), Japão (16%) e Taiwan (11,6%). A Índia tem lá seus 2%. Com a nova tecnologia desenvolvida na PUCRS, surgem boas chances de entrarmos nesse jogo pra valer. Moehlecke lembra que o Brasil sequer tem regulamentação específica para energia solar e espera que as instâncias governamentais responsáveis façam sua parte.

Energia solar em residências
Uma das vantagens da energia solar fotovoltaica é que ela pode ser produzida em residências. Além de gerar sua própria energia, o morador pode vender o excedente para os administradores da rede local. Na Europa, esse expediente costuma render até quatro mil euros/ano por morador (foto: Solar Energy House Plans).

E parece que estão fazendo. Ao menos é o que garante o engenheiro Hamilton Moss, do Ministério de Minas e Energia. Segundo ele, o ministério já criou um grupo de discussão para incentivar a energia solar fotovoltaica no país. "Já encomendamos um relatório sobre o tema, que deverá orientar nossas próximas iniciativas. Por ora, pretendemos incentivar o desenvolvimento de aplicações urbanas da energia solar", adiantou Moss.

Ele destacou ainda duas outras iniciativas do governo federal. A primeira é o Programa Luz para Todos, iniciado em 2003, que objetiva pôr fim à exclusão elétrica no país, especialmente no meio rural. No interior, sobretudo no Nordeste e na Amazônia, há locais em que é muito difícil usar rede elétrica convencional. "Nesses casos, a energia solar é uma ótima solução", disse o engenheiro. "No âmbito do programa, tem sido usada para atender à demanda dessas populações isoladas. E pretendemos aumentar esse uso."

A maioria dos estádios da Copa de 2014 deve funcionar com energia solar fotovoltaica

A outra iniciativa é uma parceria entre o governo e os comitês organizadores da Copa do Mundo de 2014, que será disputada no Brasil. A previsão é de que a maioria dos estádios funcione com energia solar fotovoltaica. "Imaginamos que isso deverá impulsionar o desenvolvimento do Brasil nessa área", acredita Moss. "Em cinco anos pretendemos estar plenamente familiarizados com a energia solar."

Diante das boas-novas, os pesquisadores estão otimistas. "Nosso próximo passo é implantar uma indústria de módulos fotovoltaicos no Brasil", disse Moehlecke. Em escala pré-industrial, já foram produzidos 200 módulos, entregues em dezembro aos patrocinadores do projeto (Finep-MCT, Petrobras, Eletrosul e Companhia Estadual de Energia Elétrica do Rio Grande do Sul). A perspectiva é de que, nos próximos meses, novos interessados se apresentem. "Do ponto de vista técnico-industrial, o trabalho está encerrado. Que venham os investidores!"

Energia solar: prós e contras

Prós

• Uma vez instalada, ela é totalmente limpa.

• Não precisa ser produzida de forma centralizada. Cada unidade residencial pode ser uma miniusina, gerando sua própria eletricidade. "Isso já é realidade na Europa", diz Moehlecke. "O mais interessante é que, além de gerar sua própria energia, o morador pode vender o excedente para os administradores da rede." Um sistema de microprodução de 30m² pode render ao cidadão até quatro mil euros por ano.

• A vida útil dos dispositivos pode chegar a 30 anos, e a manutenção dos equipamentos é mínima.

• Ótima alternativa para localidades remotas, onde o acesso da rede elétrica é difícil ou impossível.

• A principal matéria-prima para as células solares é o silício, elemento químico que o Brasil tem de sobra. Segundo vários estudiosos, o silício deverá governar o mercado de energia solar fotovoltaica na próxima década.

Contras

• Entre todas as energias limpas, é atualmente a mais cara.

• É vulnerável à variação de produtividade de acordo com a situação atmosférica local.

• Durante a noite, não há produtividade alguma, sendo necessárias tecnologias de armazenamento, ainda não disponíveis.

• Latitudes médias têm produção menor nos meses de inverno.


Fonte: Ciência hoje

Boaventura de Souza Santos

Temos o direito a sermos iguais quando a diferença nos inferioriza.Temos o direito a sermos diferentes quando a igualdade nos descaracteriza.