Especialistas destacam importância dos produtos naturais na obtenção de novos medicamentos. Brasil é rica biblioteca de moléculas para esse desenvolvimento (Imperial College)
Por Fábio Reynol
Agência FAPESP – Os produtos naturais foram fonte de cerca de metade dos compostos químicos descobertos entre 1981 e 2002. Nesse contexto, ao abrigar cerca 20% da biodiversidade mundial, o Brasil está em uma posição privilegiada como fornecedor de novos químicos, de acordo com especialistas presentes no Workshop Internacional Biota-FAPESP sobre Metabolômica no Contexto da Biologia de Sistemas, que termina nesta quarta-feira (26/2), na sede da FAPESP.
Segundo Emerson Ferreira Queiroz, diretor de pesquisa e desenvolvimento da Aché, a indústria farmacêutica tem reconhecido e valorizado cada vez mais a natureza como fonte de novas moléculas. Entre vários exemplos, citou a rapamicina, molécula obtida de uma bactéria encontrada na Ilha de Páscoa, no Oceano Pacífico.
O medicamento é utilizado como imunossupressor, prevenindo a rejeição de órgãos transplantados, especialmente os rins. “O nome do princípio ativo foi dado em homenagem à ilha, que era chamada por seus nativos de Rapanui”, disse.
Do mesmo modo, foi a partir da saliva do lagarto venenoso conhecido como Monstro de Gila (Heloderma suspectum) que surgiu um medicamento para o tratamento da diabetes tipo 2. E, a partir de um molusco marinho Conus magus, foi desenvolvido o ziconotida, um poderoso analgésico empregado para tratar dores crônicas.
Adriano Andricopulo, coordenador do Laboratório de Química Medicinal e Computacional do Instituto de Física de São Carlos da Universidade de São Paulo, outro palestrante no primeiro dia do workshop, concordou com o imenso potencial natural.
“Com a grande diversidade biológica de nosso planeta, particularmente no Brasil, temos uma importante oportunidade para descobrir compostos que levem ao desenvolvimento de novos medicamentos para prevenir doenças e distúrbios que afetam o homem”, disse.
Queiroz ressaltou a importância da Amazônia, mas afirmou que o país deveria prestar mais atenção em outros biomas. “O Brasil tem muito mais do que a região amazônica. Há o Pantanal, o Cerrado, a Caatinga, a Mata Atlântica e os Pampas. Todos fontes inexploradas de moléculas para a indústria de medicamentos”, disse.
Queiroz ressaltou que o desenvolvimento científico e tecnológico no setor farmacêutico evoluiu muito nos últimos anos, o que tem facilitado o desenvolvimento de novos medicamentos.
“Hoje, já podemos criar estruturas aplicáveis a partir de 1 micrograma de uma substância descoberta. Quando comecei a carreira, eram necessários no mínimo 20 microgramas e, na época do meu pai, não dava para fazer uma estrutura com menos de 70 miligramas de material”, comparou.
Andricopulo destacou que a mudança promovida na pesquisa de medicamentos da abordagem tradicional para uma baseada na genômica e na proteômica tem transformado estratégias fundamentais de pesquisa e desenvolvimento na indústria farmacêutica.
“A descoberta de drogas é um processo altamente complexo e caro, que demanda esforços integrados em diversos aspectos relavantes envolvendo inovação, conhecimento, tecnologias, pesquisa e desenvolvimento e gerenciamento”, disse.
“Duas questões importantes para o desenvolvimento de medicamentos a partir de produtos naturais são a localização de alvos moleculares apropriados e a seleção de moduladores de pequenas moléculas, que vão fazer a ligação da proteína com seu alvo. Há uma conexão clara entre biologia e química medicinal”, ressaltou.
Fonte:Agência FAPESP