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domingo, 14 de fevereiro de 2010

Abram alas para a nostalgia

Arte gráfica: Zeca de Souza/TVE-Ba

O cronista irreverente

Por Alex Jordan* [alex341@hotmail.com]

Sempre teve tudo o que gostava, que criava usurpado. Alguns o conhecem por massa, outros por Zé Povão ou simplesmente Povo, mas vou fugir desses apelidos batidos e chamá-lo de Alex.
A história de Alex é longa, só não tão longa quanto a sua ingenuidade. Nunca aprendeu nada com seus diversos tombos, virou piada em comercial do governo, que dizia que ele não desiste nunca, quando na verdade o problema não é de desistência e sim de aprendizado. Se nosso “insistente” inventa algo não, se beneficia com a sua criação. Se ele faz uma música, alguém registra e a toca nas rádios. Alex, coitado, escuta a faixa com a sensação de “deja vu” e ainda compra o CD, pirata é claro, já que não tem condição de comprar um original. Para não me acusarem de estar sendo exagerado, vou contar um caso que aconteceu e que envolve festejos tradicionais.
Lavagem do Bonfim: todos se divertiam, Alex na rua, celebrando em alguns momentos a sua fé. Os outros interessados apenas em diversão. Toda aquela movimentação chamou atenção. A festa cresceu, muitas pessoas de outros lugares começaram a chegar. Isso só poderia significar uma coisa: cifras. Nasceu o Bonfim Light, com o único propósito de ganhar dinheiro. A festa não acabou, mas não é nem sombra do que já foi um dia.

Segue resistente, afinal de contas, sempre gostou das festas, mas não possuía dinheiro, então, o que o nosso pobre personagem poderia fazer? O carnaval das elites eram bailes que ocorriam em clubes, com toda a falta de ginga que a nobreza possui (deve ser o peso do dinheiro no bolso). O folião não poderia ficar “na porta estacionando os carros”, em vez disso, saiu correndo atrás de um, para ser mais preciso, de um calhambeque (fobica). Assim, se divertiu nas ruas com toda a liberdade que ela proporciona. As marchinhas guiavam o ritmo da folia, que cheirava a lança perfume.

Sentindo a falta de Alex no “estacionamento”, os ricos foram verificar onde ele poderia estar e descobriram a festa que ao lado de fora bombava mais. Tal comemoração poderia dar-lhe lucro, então o que eles fizeram? Apropriaram-se do espaço público. No lugar do calhambeque, colocaram um caminhão com um som infinitamente mais potente, ergueram camarotes com todo o tipo de serviço e colocaram Alex no seu devido lugar, segurando cordas para que outros iguais a ele não atrapalhassem a diversão dos “chicleteiros”!
O carnaval se foi, mas sobrou mais um festejo no calendário, o São João. Fogueira, quadrilha junina, comer na casa do vizinho e o bom forró pé-de-serra comendo no centro, até a lua descansar e o sol raiá:

“Olha pro céu, meu amor
Vê como ele está lindo
Olha pra’quele balão multicor
Como no céu vai sumindo…”

Mas todo aquele costume não rendia dinheiro algum. Aquecia as vendas dos fogos de artifício e também de alimentos como milho e amendoim. Alex seguiu inconformado com a utilização da cultura apenas para se divertir. O som agradável deu lugar a vulgarização e a pobreza musical mais conhecida por Forró Universitário. Palcos enormes tomaram conta das praças, isso sem mencionar das festas de camisas em fazenda, que todos fingem não saber o que ocorre nelas. E nosso pobre guerreiro vê atônito sua diversão explodir com os fogos de artifício, já que nem a fogueira restou.
Depois desse triste relato só resta comer uma boa feijoada… Restava, o feijão já agrada o refinado paladar deles. Já custa R$ 7 o quilo… Êh, faz uma sopa!

Texto produzido por Alex Jordan, retirado do site www.murilogitel.com.br

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